Indissolubilidade do casamento – 2ª parte

Couple Sitting on a Bench in the Rain

Introdução

No estudo anterior – A indissolubilidade do casamento – 1ª parte (16), vimos que, ao longo da Bíblia, o casamen­to é apresentado como uma instituição divina e que a vontade de Deus é uma união matrimonial indissolúvel durante toda a vida do casal.

No Antigo Testamento, o Senhor declara que odeia o di­vórcio (Ml 2.16). Portanto, um casamento que se desfaz é algo odioso para Deus.

No Novo Testamento, Jesus ensina claramente que o di­vórcio não é permitido: “Assim não são mais dois, mas uma só carne. Portanto, o que Deus ajuntou não o separe o homem” (Mt 19.6; Mc 10.7-9). Ele declara que aquele cônjuge que re­pudia e casa com outro comete adultério.

O apóstolo Paulo também declara que nem a mulher deve apartar-se do mari­do nem o marido deve deixar a mulher. Caso isso venha a acontecer, ambos têm apenas duas opções: ficar sem se casar ou se reconciliar (1Co 7.10-11). Isso porque a simples separação de corpos não significa a dissolução do casamento.

A vontade de Deus é uma união matrimonial
indissolúvel durante toda a vida do casal.

Aqui, queremos tratar de questões e dúvidas que alguns podem ter quanto a esse assunto.

Existem exceções?

Alguns declaram haver uma exceção para o princípio da indissolubilidade do casamento. Os que afirmam isso se uti­lizam do texto de Mateus 19.9. Por isso, vamos estudar mais detalhadamente esse texto.

Vamos ler Mateus 19.3-12 e analisar o texto:

A situação começa com os fariseus, vindo experimentar Jesus, perguntando: “É lícito ao marido repudiar a sua mulher por qualquer motivo?”(v.3). Aqui já percebemos os fariseus querendo encontrar uma brecha para repudiar a mulher.

a. Jesus lhes responde claramente:

Não tendes lido que o Criador, desde o princípio, os fez homem e mulher e que disse: Por esta causa deixará o homem pai e mãe e se unirá a sua mulher, tornando-se os dois uma só carne? De modo que já não são mais dois, porém uma só carne. Portanto, o que Deus ajuntou não o separe o homem. Mt 19.4-6

Jesus dá uma resposta completa ao assunto. Ele diz que, desde o princípio, o homem se une à sua mulher, deixando de serem dois, que Deus os une e que o homem não os separe.

Em outras palavras, Jesus está dizendo: Não. Não podem se divorciar. E, por ele, a resposta já havia terminado.

b. Mas os fariseus insistem: “Por que man­dou, então, Moisés dar carta de divórcio e repudiar?”(v.7) Eles queriam uma porta para o divórcio.

Os fariseus estavam querendo encontrar uma brecha
para repudiar a mulher. Mas Jesus lhes disse:
“o que Deus ajuntou não o separe o homem”.

c. Então Jesus lhes responde:

Respondeu-lhes Jesus: Por causa da dureza do vosso coração é que Moisés vos permitiu repudiar vossa mulher; entretanto, não foi assim desde o princípio. Mt 19.8.

A resposta de Jesus declara: Deus permitiu o divórcio a vocês porque tinham coração duro, mas não era essa a Sua vontade desde o princípio. Ele novamente está dizendo: Deus consentiu, mas não quer o divórcio.

É importante também entender que Moisés não havia dado uma abertura ampla para o divórcio. Havia permitido ao ho­mem repudiar a mulher, exclusivamente, no caso em que ele descobrisse, nas núpcias, que havia sido enganado e a mulher não era virgem (ver Dt 22.13-30; 24.1-5).

Nem caberia a um discípulo agir assim, com a dureza de coração dos fariseus.

d. Então, Jesus acrescentou:

Eu, porém, vos digo: quem repudiar sua mulher, não sendo por causa de relações sexuais ilícitas, e casar com outra comete adultério e o que casar com a repudiada comete adultério. Mt 19.9.

Esse texto permite mais de uma interpretação. Porém, qualquer interpretação que seja dada, não pode contrariar os demais textos bíblicos que vimos sobre o assunto na lição anterior.

Interpretação equivocada

Alguns, equivocadamente, interpretam que Jesus estaria, aqui, abrindo uma exceção e dizendo que, em caso de adultério de um dos cônjuges, o outro poderia casar-se de novo.

Essa interpretação é errônea por três motivos: contraria todo o contexto daquilo que Jesus está falando, contraria os demais textos bíblicos sobre o assunto (que lemos na lição anterior) e é uma tradução impró­pria do versículo original grego.

Para entendermos o sentido do que Jesus está dizendo, pre­cisaremos observar as palavras utilizadas no original grego:

Eu, porém, vos digo: quem repudiar sua mulher, não sendo por causa de porneia, e casar com outra come­te moicheia e o que casar com a repudiada comete moicheia. Mt 19.9.

Porneia significa qualquer tipo de relação sexual ilícita. Moicheia significa adultério, isto é, pecado sexual que uma pessoa casada comete.

Jesus conhecia as duas palavras e as utiliza em sentidos diferentes. Se ele quisesse direcionar o sentido para abrir uma exceção em caso de adultério, ele teria usado a palavra moicheia em lugar de porneia. O texto seria assim:

Eu, porém, vos digo: quem repudiar sua mulher, não sendo por causa de moicheia, e casar com outra co­mete moicheia e o que casar com a repudiada comete moicheia. Mt 19.9.

Portanto, isso nos indica que Jesus não está falando aqui que, em caso de adultério, pode haver recasamento.

Jesus não está falando que, em caso de adultério,
pode haver recasamento.

Interpretação correta

Uma interpretação, aceita por muitos teólogos é que a pa­lavra porneia esteja no sentido de fornicação, que é o pecado sexual de um solteiro. Esse é um sentido possível daquilo que Jesus está dizendo. O texto poderia ser escrito assim:

Eu, porém, vos digo: quem repudiar sua mulher, não sendo por causa de fornicação, e casar com outra comete adultério e o que casar com a repudiada co­mete adultério. Mt 19.9.

Nesse caso, Jesus estaria dizendo que, no caso da mulher ter praticado fornicação – quando solteira, e o marido descobrir, poderia divorciar-se. Dessa forma, Jesus estaria confirmando aquilo que a lei de Moisés permitia; isto é, dar carta de divórcio quando a mulher fosse descoberta não virgem nas núpcias.

Entretanto, nos parece que a interpretação mais correta é tomar o texto com o sentido mais amplo da palavra porneia, não apenas fornicação. Fazendo isso, o texto fica assim:

Eu, porém, vos digo: quem repudiar sua mulher, não sendo por causa de relações sexuais ilícitas, e casar com outra comete adultério e o que casar com a repudiada comete adultério. Mt 19.9.

Assim, Jesus está dizendo que ninguém pode divorciar-se, exceto no caso de estarem vivendo em relações ilícitas, ou seja, no caso de casamentos ilícitos. Esse seria o caso em que o próprio relacionamento do casal for ilícito. Por exemplo: se um homem se casa com 2 ou 3 mulheres. Uma delas é esposa, as outras são porneia, relações sexuais ilícitas. Nesse caso, as outras esposas podem divorciar-se e se casar com outro marido. Outro exemplo: Um homem casa-se com uma mu­lher que já era casada. Essa relação é ilícita e esse homem, ao separar-se dessa mulher, está livre para se casar com outra. Nesses casos em que o relacionamento atual é ilícito, Jesus está dizendo que pode casar-se com outra. Jesus não está abrindo uma porta para o divórcio comum. Essa é uma anulação legal de um vínculo ilícito.

e. Por fim, nesse texto, Jesus continua a conversa com seus discípulos.

Disseram-lhe os discípulos: Se essa é a condição do homem relativamente à sua mulher, não convém casar. Mt 19.10.

Esse comentário dos discípulos também é esclarecedor. Eles não disseram: “Ah, que bom que o Senhor se lembrou das pessoas que foram traídas e permite elas se casarem de novo”. Não. Eles manifestaram espanto e temor e disseram: “Se essa é a condição do homem relativamente à sua mulher, não convém casar.” Ou, em outras palavras: “Senhor! É assim? Eu me caso e se tenho problemas com a minha mulher, não posso me divorciar? Se é assim, melhor nem casar”. Se Jesus tivesse deixado a porta do divórcio aberta, os discípulos teriam ficado aliviados e não assustados. Fica claro, mais uma vez, pela reação de espanto dos discípulos, que Jesus não abriu essa exceção para o divórcio.

Independente do fato que motivou a separação ou divórcio,
o segundo casamento não é permitido pelo Senhor.

Portanto, em Mateus 19, Jesus não está abrindo uma porta para o divórcio e o re-casamento. Ele, na verdade, está confir­mando que o casamento é indissolúvel e que Deus não permite o novo casamento.

Outras perguntas

  • O texto de 1Co 7.15•

O texto de 1Co 7.15 dá abertura para o cônjuge cristão que for abandonado pelo incrédulo poder se casar de novo?

Não. As palavras do apóstolo são:

Mas, se o descrente quiser apartar-se, que se aparte; em tais casos, não fica sujeito à servidão nem o irmão, nem a irmã; Deus vos tem chamado à paz. 1Co 7.15.

Não podemos tomar a expressão “não fica sujeito à servi­dão” e torcer-lhe o sentido como sendo uma liberação para casar-se de novo.

Isso seria uma contradição, porque o apóstolo, instantes antes, fala que o Senhor ordena que, se a mulher vier a se se­parar, “que não se case ou que se reconcilie com seu marido”. (1Co 7.10-11).

A expressão “não fica sujeito à servidão” quer dizer que, se a situação de vida com o incrédulo está impossível de conviver e o incrédulo se apartar, o irmão está livre de ter que suportar aquela situação insustentável; mas não está livre para um novo casamento.

O Senhor ordena que, se um cônjuge vier a se separar,
que não se case ou que se reconcilie com seu cônjuge.
  • E a pessoa que se recasou antes de conhecer a Cristo?

Alguns chegam à igreja já recasados e, tomando o texto de 1Co 7.17-20, dizem que o Senhor os quer, cada um, no es­tado em que Deus os chamou, os re-casados que continuem recasados. Isso é um sofisma e um uso indevido das Escrituras. Aqui, Deus não está permitindo que aquele que chega em adultério permaneça em adultério.

Outros argumentam com o texto: At 17.30: “Ora, não levou Deus em conta os tempos da ignorância”. “Quando eu me separei e casei, eu não conhecia a vontade do Senhor e Deus não leva em conta o tempo da ignorância”. Trata-se de outro engano. A continuação do versículo esclarece a verdade: “Agora, porém, notifica aos homens que todos, em toda parte, se arrependam”. Se alguém era ladrão, não pode continuar sendo ladrão. Se alguém estava em adul­tério, é perdoado. Mas, não pode seguir em adultério.

Se alguém, ao se converter, estava em adultério, o Senhor o perdoa.
Mas, não pode seguir em adultério.

Considerações finais

O casamento é uma instituição de Deus. É uma união indissolúvel. Só a morte pode terminá-la, conforme o en­sino de Jesus e dos apóstolos.

O Senhor diz que os casados não se separem. Por maiores que sejam os conflitos familiares, que busquem a ajuda de Deus e de irmãos maduros que possam orientá-los. A separação nunca é uma alternativa. Em caso de haver adultério de um dos cônjuges, a primeira coisa que o Senhor pede aos seus discípulos é que haja perdão, fruto de um coração amoroso.

Em caso de separação, que ela seja sempre provocada pelo cônjuge incrédulo. E o cônjuge discípulo de Cristo deverá ficar sem se casar novamente ou deverá reconciliar-se com seu cônjuge.

Independente do fato que motivou a separação ou o di­vórcio, o segundo casamento é absolutamente proibido pelo Senhor. Aquele que se casa de novo, tendo seu primeiro côn­juge vivo, comete adultério.

O fato das leis do país permitirem o divórcio e um novo casamento não modifica em nada os princípios do casamento. A vontade de Deus é imutável e os discípulos de Jesus desejam estar debaixo dela.

Para nossa grande tristeza, por razões humanistas parte da igreja abraçou os conceitos desse mundo. Essa igreja é respon­sável também, diante do Senhor, pelo nível de aceleração da degradação da família. Se ela tivesse se levantado e dito: “Isso não é vontade do Senhor”, talvez tivéssemos menos famílias destruídas e jovens arrasados porque os pais se separaram. Cada vez que a igreja apóia um relacionamento ilícito, está sendo cúmplice da destruição de uma família e de muitas outras que virão.

Todos os casos que envolvem situações nessa área são difí­ceis e delicados. Devemos ser compreensivos, sábios e mise­ricordiosos, buscando ajudar e socorrer os que estão sofrendo e tratar com amor e oração. Porém, sem deixar de anunciar, com fidelidade, a verdade de Cristo.

O Senhor não está tão preocupado com a nossa felicidade terrena. Deus nos quer eternamente felizes junto a Ele e não pode nos ter sem nos separar daquilo que é pecado. Obedeça­mos com fé a vontade do Senhor.

O Senhor não está tão preocupado com a nossa felicidade terrena.
Deus nos quer eternamente felizes junto a Ele.